A importância dos Conselheiros provocadores
O comentário é antigo, mas vale a pena recordar pois ainda é muito atual. A maioria dos Conselhos de Administração "prefere olhar pelo espelho retrovisor do que ligar os faróis altos". A frase nos revela que grande parte dos Conselhos e seus membros prefere olhar para o desempenho passado das empresas através dos relatórios econômico-financeiros do que discutir estratégias futuras, novas ideias. Mesmo durante a análise sobre o planejamento estratégico o Conselho, tende a se prender muito mais às cifras do comportamento do caixa e de resultados futuros, do que às eventuais novas e interessantes ideias que são apresentadas. Grande parte dos conselheiros não percebe a força que têm as provocações ligadas ao desempenho da empresa, novas ideias, estratégias ou negócios. Em geral impera uma certa timidez por parte deles. Eles têm medo de se expor e " pensar em voz alta".
As empresas, na maioria das vezes, não se dão conta do privilégio que têm em poder reunir em um só lugar e ao mesmo tempo um grupo de pessoas altamente qualificadas para debater , sugerir e analisar o que está acontecendo no entorno de seus negócios. A partir do Conselho deveriam brotar ideias e sugestões. As vezes uma única colocação ou pergunta pode ser altamente transformadora.
O foco dos gestores de uma empresa é produzir e trazer resultados. Eles não têm tempo ou vocação para olhar pelas janelas da organização e refletir sobre o futuro. Já o conselheiro, este sim deveria ter por tarefa e missão, trazer as novidades, tendências, análises setoriais e de conjuntura.
Já acompanhei momentos onde a partir de uma pequena exposição dada por um conselheiro sobre Economia 4.0, os sócios de uma empresa - no caso uma família empresária - se entusiasmaram pelo novo e disruptivo e partiram em busca de novas oportunidades para seus negócios.
Há alguns anos assuntos como sustentabilidade, compliance e ESG ainda eram novidade para a maioria das pessoas, entre as quais os gestores das empresas. Em muitos casos, foram os conselheiros que trouxeram as novidades e provocaram a empresa fazendo com que seus gestores se inteirassem dos assuntos, discutindo-os com o Conselho e eventualmente dando início aos diversos programas discutidos.
É muito importante que o CEO ou sócio na direção de uma organização como membro do Conselho esteja em sintonia com os demais conselheiros. Ele precisa saber aproveitar o potencial de ideias que podem emanar de uma reunião. Infelizmente assistimos a muitos casos onde os " donos" das empresas são muito refratários ao novo, resistem a outras ideias e preferem se sentir confortáveis na mesmice, sem perceber que seus barcos estão afundando.
É também muito comum, donos de empresas escolherem para seus Conselhos, sócios e membros da família. Não simpatizam com a ideia de trazer conselheiros independentes para seus Conselhos.
Líderes autocratas quando confrontados com novas ideias desdenham-nas inicialmente, não admitindo por exemplo, maiores discussões sobre o assunto em reuniões de Conselho, passando para outros temas menos comprometedores da pauta.
Cabe igualmente aos conselheiros, ao analisar as dotações orçamentárias das empresas, questionarem o quanto é destinado às novas idéias. Uma empresa dificilmente poderá buscar a sua inovação sem recursos financeiros. É muito oportuno haver uma reserva de caixa para o novo. Um exemplo que podemos citar é o Google - 10% do tempo de seus funcionários interessados em desenvolver novas idéias - é permitido sem decréscimo do salário.
Durante as reuniões de Conselho é preciso dar espaço para que surjam provocações e perguntas e, provavelmente as mais interessantes, provocativas e instigantes serão formuladas pelos conselheiros externos e independentes.
Daí a importância de termos um perfil diversificado de conselheiros, pois cada um trará os seus questionamentos de acordo com sua vivência profissional e seu campo de interesses.
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