A disrupção nos Conselhos Empresariais
- Thomas Lanz
- 4 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Na época da invasão holandesa no Brasil, os Conselhos já tinham papel relevante, pois a Companhia das Índias Ocidentais, sociedade mista formada por interesses do governo holandês e privados (fundada em 1.623), já tinha um Conselho formado por representantes dos dois grupos de sócios.
Desde sempre, os Conselhos foram e
são uma peça importante na estrutura organizacional das sociedades. Na maioria dos países, Sociedades Anônimas de Capital Aberto precisam por exigência legal constituírem os seus conselhos. Os Conselhos de Administração até aproximadamente os anos de 1980 tinham suas funções mais dirigidas para o controle do desempenho econômico financeiro, direcionamento estratégico, maximização do retorno dos investimentos, nomeação e acompanhamento da gestão inclusive dos CEOs das organizações. Os Conselhos exerciam suas atividades, sem chamar a atenção .
Uma transformação importante nos Conselhos ocorreu após os anos 80. Os grandes escândalos corporativos Lehman Brothers, Enron, Tyco nos Estados Unidos, Petrobrás e Odebrecht no Brasil fizeram que grande pressão fosse exercida sobre os Conselhos. Sua postura e atuação teve que mudar por pressão dos sócios, da sociedade e legislação mais severas Daí para frente, coube aos conselhos zelar com especial atenção os interesses dos acionistas, coibir abuso dos gestores e stakeholders. Os Conselhos passaram a exigir que suas empresas fossem claras e transparentes na divulgação de seus resultados e que refletissem fidedignamente o desempenho das corporações. Isso fez com que a própria governança das empresas se tornasse, via Conselhos, mais severa em torno da auditoria, compliance e assim por diante. Tanto no exterior como no Brasil instituições de pesquisa e ensino começaram a investir na área, por volta da década de 1.990. Pesquisa sobre a governança, formação de conselheiros, atuação de conselhos, tiveram no IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, na Fundação Dom Cabral e outros o foco para a formação de quadros de conselheiros. Isto demonstra a importância que o assunto vem ganhando no decorrer dos anos.
Nos últimos anos empresas de menor porte e de capital fechado, em especial empresas familiares também têm constituído os seus Conselhos e voltado à atenção para a boa governança corporativa. Vários aspectos benéficos como a profissionalização dessas empresas, a introdução dos futuros herdeiros nos negócios da família, o início do processo sucessório da gestão e o fortalecimento da governança complementaram as funções rotineiras dos Conselhos.
Por outro lado, temos colecionado algumas críticas em relação aos Conselhos tanto de grandes corporações como de médias e pequenas empresas. É a questão da visão estratégica desses grêmios. Predomina ainda o olhar para o passado e sobretudo o acompanhamento do desempenho econômico - financeiro. A grande maioria dos Conselhos ainda tem dificuldade para" levantar os faróis " e olhar para o futuro. Caberia aos conselheiros imprimir mudanças ou deixar as coisas como estão, esquecendo que as empresas poderão morrer se não forem incentivadas rumo ao seu desenvolvimento. Estamos vivendo novas transformações. A economia 4.0, a tecnologia da Inovação, novos comportamentos dos consumidores, nova maneira de se fazer negócios, o ambiente disruptivo e acelerado que nos cerca está demandando que os Conselhos agreguem outras tarefas. Se até há poucos anos atrás se esperava deles sobretudo o papel de guardiães das organizações, zelando pela ordem, ética, transparência e boa governança, hoje as empresas exigem mais dos Conselhos. Eles devem, entre outros, assumir o papel de propulsores de novas ideias, refletindo a movimentação da indústria, da tecnologia e novos modelos de negócios. Conselhos devem ser aceleradores das organizações e não freios. Para tanto, a busca de novos perfis de conselheiros se torna imprescindível!
Desde a época das Cia das Índias Ocidentais até os nossos dias os Conselhos passaram por inúmeras transformações. Certamente muitas outras ainda virão.
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